Reclassificação pode afetar as exportações do mel, dizem produtores


A reclassificação do mel de produto de origem animal para de origem mista, conforme proposto pelo Projeto de Lei da Câmara (PLC) 36/2017, pode afetar as exportações e prejudicar os pequenos produtores. Essa conclusão foi debatida entre o convidados da audiência pública realizada pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) nesta terça-feira (22). Requerida pelos senadores Regina Sousa (PT-PI) e Ivo Cassol (PP-RO), a reunião também serviu para discutir os desafios da cadeia produtiva da apicultura no Brasil e a política nacional do mel.
Para Cassol, presidente da comissão, o mel do Brasil é referência mundial em qualidade. Ele lembrou que as abelhas não são essenciais apenas para a produção do mel mas também para a manutenção da biodiversidade, em razão da sua capacidade polinizadora.

Classificação do mel

O PLC 36/2017, do deputado Alceu Moreira (PMDB-RS), exclui mel, cera, própole, geleia real e demais produtos da apicultura das normas que orientam a inspeção de produtos de origem animal, previstas na Lei 1.283/1950. Ainda pelo projeto, os produtos apícolas ficarão sujeitos a normas específicas, definidas em regulamento.
A mudança é vista com preocupação por produtores rurais. Segundo Cesar Ronconi, representante da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a modificação de origem animal para origem mista pode afetar as exportações, já que muitos países não reconhecem essa classificação.
Segundo a representante da Área Técnica da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), Fabricia Soriani, a apicultura é uma atividade prioritariamente do pequeno produtor, em sua maioria da agricultura familiar.
— Os maiores exportadores de mel do Brasil são responsáveis por absorver a produção do pequeno produtor rural e enviar o seu mel para o mundo. Segundo levantamento do IBGE, em 2017, das 37 mil toneladas de mel produzidas, 20 mil foram exportadas, totalizando 55% da produção. Por isso, o comprometimento das exportações de mel brasileiro hoje, prejudicaria imediatamente e integralmente a cadeia produtiva. Tanto os entrepostos exportadores, quanto, obviamente o pequeno produtor rural — explicou.
Para os debatedores, a Instrução Normativa 5/2017 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e as outras normas publicadas recentemente concordam com os anseios do setor. Por isso, não seria necessário um projeto de lei como o PLC 36/2017.

Desafios

Para a senadora Regina Sousa (PT-PI), o consumo do mel é pequeno no Brasil, porque o produto sempre foi visto como remédio. Por isso, disse, é preciso implantar políticas públicas para reconhecimento do produto como alimento, como incorporá-lo na merenda escolar, por exemplo.
O pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Meio Norte (Embrapa) Bruno Souza falou da necessidade de uma legislação que estabeleça um percentual mínimo do mel nos produtos, assim como o projeto PLS 93/2015, que estabelece o percentual mínimo do cacau.
Outro problema enfrentado pelos produtores de mel são os agrotóxicos.  Segundo o presidente da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Mel e Produtos Apícolas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Lauro Jurgeatis, as novas tecnologias precisam englobar a preservação do meio ambiente.
— O produtor rural é o utilizador dos agroquímicos, por isso ele deve estar presente nesse debate sobre novas tecnologias. Ele tem que ser parceiro da apicultura. Os agroquímicos no Brasil têm um passivo ambiental com a cadeia do mel. Porém, quem está pagando pela mortandade das abelhas são os apicultores — alertou.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Mapa reconhece seis estados como livres de febre aftosa sem vacinação.

Toffoli deixa em aberto prazo para nova proposta de pagamento de multas

Lira sinaliza retaliação caso PSB saia do bloco